Um dos meus passatempos preferidos é visitar livrarias. Se a livraria é grande, melhor ainda, mas mesmo as pequenas eu adoro.

Muitas vezes gosto de ir na prateleira dos meus autores preferidos e ter o prazer de ver que outras pessoas também leram aquele livro, que já não mais está lá.

Mas o que aconteceria se eu começasse a roubar os livros? O que as pessoas pensariam de mim? Quais seriam as consequencias se ninguém visse?

Outra coisa que gostamos de fazer, eu e a Débora, é ir olhar CDs e DVDs/Blurays. Vira e mexe a gente acha algum álbum novo de algum artista que a gente gosta, ou descobre algum artista bacana pela música que tá rolando na loja.

Mas e se de repente eu começasse a colocar, escondido, na bolsa da Débora aqueles discos bacanas? E se eu começasse a pegar aqueles filmes lançamentos, que acabaram de sair do cinema, e colocasse tudo na bolsa da minha filinha, e levasse eles para casa escondido? Será que alguém iria pensar que eu sou um crápula, um ladrão, que faz esse tipo de coisa na frente da filinha? Que valores estou ensinado a ela e a minha esposa?

De vez em quando vamos à feria que tem aos domingos perto da minha casa. Lá eles tem frutas e verduras bem fresquinhas. Tem também um pastel delicioso. Mas e se eu começasse a colocar, enquanto o vendedor está de costas, alguns tomates viçosos na sacola, sem que ninguém visse? E se, de repente, eu resolvesse que é legal pegar quiabo (quem gosta de quiabo afinal?) e colocar nos bolsos? Alguém iria pensar que sou um cara sem coração só porque estou roubando algumas poucas unidades que custam centavos? E eu nem gosto de quiabo, só peguei porque estava fácil!

É claro que não faço nenhuma dessas coisas. Esses são pensamentos que, em geral, a maioria de nós nem sequer deixa passar pela nossa mente. Apenas pensar nisso dá raiva de quem rouba o pobre do feirante que tem que passar o dia todo alí, às vezes em baixo de chuva, pra receber alguns poucos Reais por produtos que, se ele não plantou, teve que acordar cedo e ir ao centro de distribuição comprar para te revender.

No entanto muitos de nós muitas vezes fazemos isso. Roubamos. Não o feirante, não o dono da loja de discos/filmes, não o dono da livraria. Roubamos músicos, produtores de filmes/séries, atores, autores de livros, redes de televisão, produtores de software e vários outros. Mas a gente, frequentemente, não acha que isso é roubo.

Estamos acostumado com a Internet e com toda a facilidade que ela traz. Sempre tem aquele filme, aquela música, aquele livro, aquele App ali, dois cliques e, às vezes, uma publicidade chata que a gente tem que driblar para ter acesso ao link certo.

Quem nunca foi a um site de Torrent procurar aquele episódio da sua série preferida, e baixou de seus mais de 100 seeds? Quem nunca pegou um link de um megaupload da vida com aquele filme bacana? Quem nunca entrou em sites de "tv gratuita" que tem por aí? Quem não se interessou pela premissa do software Popcorn que prometia ser a "Netflix dos torrents"?

Baixar coisas da internet é muito conveniente, mas quando isso não foi comprado ou nos dado o direito legal (pelo produtor/distribuidor), isso é roubo.

Ora, você pode argumentar, mas eu não peguei algo físico daquela pessoa. Não dá para dizer que é roubo/furto, já que a pessoa continua com aquele bem!

Pode não ser roubo do bem físico, e de fato não é, mas e o tempo que aquele artista gastou gravando o CD? E o tempo que ele passou estudando (às vezes a vida toda)? E o tempo que o autor daquele livro gastou escrevendo, revisando, procurando editora? E o tempo que o ator estudou? E o tempo que esse artista dedicou atuando naquele filme? E toda a infraestrutura que a emissora usou para transmitir aqueles programas?  E os gastos secundários envolvidos em distribuição?

Toda vez que você baixa um filme, música, livro, etc. sem direito, você está roubando o trabalho de alguém. Toda vez que você instala uma GatoNET na sua casa, alguém está perdendo com isso.

O que comumente eu ouço é: "ah, mas Fulano tá rico, então não dá nada". Ou então "as gravadoras/estúdios não vão morrer porque eu não comprei um disco". Então se o feirante está todos os domingos trabalhando na feira, acordando cedo pra ir ao centro de distribuição comprar produtos para te vender, e ficou rico nesse processo, então agora é justo roubá-lo? Se eu montei uma livraria pequena, vendi livros bons, a preços bons, e no processo ganhei muito dinheiro, está certo ir na minha livraria pegar meus livros escondido? A mesma coisa com quem teve sucesso vendendo CDs/DVDs/Blurays?

Você pode ainda argumentar que essas coisas são caras. R$ 40,00 num DVD! Não, isso é que é roubo! R$ 19,90 num livro! Que absurdo!

Vamos agora todos roubar livros porque eles são caros? Vamos agora entrar sorrateiramente nas lojas de discos e pegar várias unidades escondidas, afinal o preço tá pela hora da morte? Então porque roubamos músicas na internet? Porque baixamos filmes/séries?

Eu entendo que, ao longo do tempo, a gente aprendeu que "não dá nada". Que não tem problema baixar essas coisas, afinal, ninguém está nem aí mesmo.

Infelizmente esse é um pensamento muito comum, mas também muito errado. Se isso nunca foi justificável, ainda mais hoje em dia com Netflix, Spotify/Rdio/Deezer, Amazon (com alguns ebooks de R$ 4, e muitos de graça).

Eu sou desenvolvedor de software. Muitas vezes fiz software de graça, e outras vezes recebi por ele. Na verdade, todos os dias, eu trabalho com isso, e recebo para fazer softwares. Mas e se eu comçar a vender meu softwares daqui pra frente, você vai me roubar? Você vai baixar sem pagar só porque está na Internet? Você que é meu amigo, que me conhece, não faria isso, faria?

Ps.: Eu usei roubo em vários lugares onde deveria ser furto, mas a palavra roubo tem mais impacto. Ainda que menos precisa, o que eu quis foi passar a ideia de algo ilegal.